domingo, 24 de maio de 2020

LÍNGUA PORTUGUESA

Leia a fábula e identifique os elementos da narrativa (narrador, personagens, enredo, tempo e espaço). Responda em seu caderno.

Os animais e a peste

Em certo ano terrível de peste entre os animais, o leão, mais apreensivo, consultou um macaco de barbas brancas.
— Esta peste é um castigo do céu — respondeu o macaco — e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós.
— Qual? — perguntou o leão. 
— O mais carregado de crimes.
O leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois duma pausa, disse aos súditos reunidos em redor:
— Amigos! É fora de dúvida que quem deve sacrificar-se sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço-me, pois, para o sacrifício, necessário ao bem comum.
A raposa adiantou-se e disse:
— Acho conveniente ouvir a confissão das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime. São coisas que até honram o nosso virtuosíssimo rei Leão. 
Grandes aplausos abafaram as últimas palavras da bajuladora e o leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício. Apresentou-se em seguida o tigre e repete-se a cena. Acusa-se de mil crimes, mas a raposa mostra que também ele era um anjo de inocência. E o mesmo aconteceu com todas as outras feras. Nisto chega a vez do burro. Adianta-se o pobre animal e diz:
— A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor vigário. Os animais entreolharam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a palavra: — Eis amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses não pode ser outra, porque não pode haver crime maior do que furtar a sacratíssima couve do senhor vigário. Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimemente eleito para o sacrifício. 
Moral: Aos poderosos, tudo se desculpa... aos miseráveis, nada se perdoa. 
Monteiro Lobato – Extraído do site Universo das Fábulas.

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